Massacre de Abu Shusha – Terror de Israel na Palestina
Essa
é terceira reportagem de nossa séria sobre o terror de Israel contra os árabes.
Abu
Shusha era uma aldeia palestina no subdistrito de Ramle, no Mandato Britânico
da Palestina, tendo sido despovoada em maio de 1948.
Em 1177 os cruzados, que a chamavam de Mont Gisar, ganharam uma batalha contra Saladino em Abu Shusha.
Em
1869 ou 1872, as terras da aldeia foram compradas por Melville Peter Bergheim
de Jerusalém, um protestante de origem alemã, que a transformou em uma fazenda
agrícola, muito contestada pelos moradores.
Após a falência de Bergheim em 1892, as terras passaram a ser geridas
pelo governo inglês.
Em
1945, a população de Abu Shusha era 870 habitantes, todos os muçulmanos, com
uma área total de 9.425 dunams (unidade de medida otomana equivalente a um acre
inglês).
O massacre de Abu Shusha e as consequências
Nos
dias 13 e 14 de maio de 1948, a aldeia de Abu Shusha foi atacada pela Brigada
Givati, uma brigada de infantaria das Forças de Defesa de Israel, durante a
Operação Barak. A Operação Barak foi uma ofensiva feita pelas Forças de Israel
antes do final do mandato Britânico, para tomar aldeias no Norte de Gaza, antes
da chegada do Exército do Egito.
David Ben-Gurion |
Alguns
habitantes fugiram, mas a maioria permaneceu tentando defender a aldeia da
invasão. As tropas Givati foram imediatamente substituídas por milicianos do
kibbutz Gezer, que mais tarde foram substituídos por tropas da Brigada de Kiryati,
brigada formada por David Ben-Gurion, inicialmente para defender a área em
torno de Tel-Aviv, mas que acabou participando de várias batalhas.
Em
19 de maio, fontes da Legião Árabe afirmaram que moradores de Abu Shusha estavam
sendo mortos.
Em
21 de Maio, as autoridades árabes apelaram para a Cruz Vermelha para que parassem
o que eles chamaram de "atos bárbaros" praticados por Israel em Abu
Shusha. Houve relatos de que um soldado da Haganah, organização paramilitar
judia, tentou estuprar por duas vezes uma prisioneira de 20 anos de idade. Os
moradores que permaneceram na aldeia foram expulsos, provavelmente, em 21 de
maio.
Mais
recentemente, uma pesquisa realizada pela Universidade de Birzeit, localizada
na Palestina próxima a Ramallah, com base em entrevistas realizadas com
ex-residentes de Abu Shusha, concluiu-se que entre 60 e 70 moradores foram
mortos ou massacrados durante o ataque. Em 1995, uma vala comum com 52
esqueletos foi descoberta, mas a causa da morte não foi determinada.
O
historiador israelense, Aryeh Yitzhaki, classifica os acontecimentos de Abu
Shusha como um massacre citando um testemunho do Kheil Mishmar, soldado da
Força de Defesa de Israel:
"Um
soldado da Brigada de Kiryati capturou 10 homens e 2 mulheres. Todos foram
mortos, exceto uma jovem que foi estuprada e morta em seguida. No alvorecer de
14 de maio, as unidades da Brigada Givati atacaram Abu Shusha. Aldeões em fuga
foram baleados, outros foram mortos nas ruas ou condenados à morte, alguns
foram alinhados contra uma parede e executados, não sobrando homens, mulheres
tiveram que enterrar os mortos".
O
assentamento israelense de Ameilim foi fundado nas proximidades de Abu Shusha mais
tarde, em 1948, enquanto Pedaya foi criada em 1951, ambos nas terras da aldeia
de Abu Shusha. O restante da aldeia foi destruída em 1965 como parte de uma
operação do governo para “limpar” o país de aldeias abandonadas, que foram
considerados pela Administração de Israel como "uma mancha na
paisagem".
Massacre de Abu Shusha, uma memória viva
Uma
sobrevivente do massacre de Abu Shusha, que vive desde então em Ramallah, fez
um depoimento a um jornalista alguns anos depois, no final dos anos 80.
Classificada pelo jornalista como uma senhora simpática e alegre, sua
fisionomia muda quando vê algumas fotos da época. Seu filho Ahmed é quem
traduz, ele é diretor em Ramallah e ficou dois anos e meio preso em Israel sem
nenhuma acusação.
Ela
descreveu como o Haganah, organização paramilitar de Israel, tentou entrar na
vila três vezes, mas foi repelido por resistência armada a partir da aldeia.
Finalmente, a vila foi ocupada. Setenta e dois homens foram mortos em um
massacre, incluindo três de seus irmãos, que foram arrastados pelas ruas. A
aldeia foi “limpa” de todos os homens, e aqueles que não foram mortos fugiram.
Por um tempo, eram apenas mulheres e crianças, vivendo sob o controle do
Haganah. Em seguida, o Haganah reuniu todos e disse para saírem. O Haganah
disparou tiros para o ar para assustá-los e se certificar de que compreenderam
que não podiam voltar. Quando chegaram à aldeia próxima, ela já estava vazia,
os moradores fugiram temendo um massacre como o que aconteceu em Abu Shusha.
Continuaram
para as montanhas em direção a Ramallah, dormindo sob as árvores. Finalmente,
sua família chegou a Ramallah, onde os jordanianos estavam no controle. Quando
chegaram, tinham perdido três filhos e um estava ferido. Desde então, eles têm
sofrido outros 39 anos de ocupação militar israelense após a Cisjordânia ter
sido conquistada. Hoje, ela vive em uma bela casa com seu filho, que é diretor
da cidade de Ramallah (Ramallah teve alguma autonomia muito limitada em meados
dos anos 90, mas continua a ser invadida e ocupada por Israel). Mas, apesar de
sua situação relativamente confortável, especialmente em comparação com os
refugiados que ainda vivem em acampamentos, ela quer voltar para a sua terra.
Ela diz que, em conclusão: "Eu não quero essa grande casa. Eu quero viver
na minha casa, onde é verde e há árvores. Este é o meu desejo para os meus
filhos e netos".
Ahmed
disse ao jornalista quer os entrevistou que sua mãe muitas vezes chora ao
assistir notícias sobre a situação de outros países árabes. Perguntado sobre o
que ela achava da situação, disse que ela vendo os refugiados lembrava-se de
1948, e se sentia muito triste por eles.
Abu
Shusha foi uma das cerca de 400 aldeias palestinas destruídas para dar lugar a
Israel em 1948 (palestinos muçulmanos e cristãos eram a maioria, 2/3 antes da
guerra). Assim como a maioria das cidades nos Estados Unidos foram construídas
sobre as ruínas de assentamentos nativos americanos (que foram permanente, e não
nômade, por sinal), a maioria das cidades israelenses são construídas sobre
aldeias palestinas. Muitos dos ex-moradores ainda estão vivendo em campos de
refugiados para onde fugiram a pé. Muitos deles ainda têm as chaves para suas casas
e ações para a sua terra, eles pensavam que estariam de volta em dias, mas tem
sido mais de 60 anos.
Algumas
fotos podem ser vista no link abaixo
Artigos relacionados:
Fontes:
occupied palestine (Atenção: material pode ser chocante)
Nenhum comentário:
Postar um comentário